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No limiar entre o risco e o benefício


 

Alguns medicamentos são potencialmente perigosos para idosos

A idade avançada traz alterações metabólicas, redução do percentual de água no corpo, aumento na proporção de gordura, mudanças no trato gas - trointestinal, redução de massa muscular, redução nas atividades do sistema nervoso central, assim como de órgãos como fígado e rins, além de alterações no fluxo sanguíneo. Essas mudanças podem interferir na ação dos fármacos no organismo, acarretando efeitos colaterais.

Nesse contexto, diferentes metodologias foram desenvolvidas para prevenir riscos, incluindo listar medicamentos potencialmente perigosos para idosos. A primeira delas foi proposta em 1991 pelo médico geriatra norte-ame - ricano Mark Beers, em conjunto com farmacêuticos e clínicos em geriatria, e foi chamada de Critério de Beers. A última atualização foi lançada em 2015 pela Sociedade Americana de Geriatria e estabelece cinco categorias de me - dicamentos: os que são inapropriados para idosos; os que devem ser evitados em determinadas doenças ou síndromes; os que devem ser empregados com precaução na pessoa idosa; os que demandam ajuste da dose de acordo com a função renal; e aqueles com potencial poder de interação.

Outro critério foi proposto por farmacêuticos clínicos, farmacologistas e médicos geriatras da Irlanda e é chamado de Stopp (Screening Tool of Older Person’s Potentially Inappropriate Prescriptions) e Start (Screening Tool to Alert doctors to Right Treatment), com o propósito de suprir as possíveis deficiências dos critérios de Beers. O critério de Stopp, que foi expandido em sua última versão publicada em 2015, é composto por medicamentos considerados potencialmente inapropriados. Nesses critérios, os medicamentos e classes farmacológicas foram agrupados por sistemas fisiológicos, incluindo casos de interações fármaco-fármaco, fármaco-doença e de prescrição duplicada de medicamentos da mesma classe.

Já o critério Start ajuda a identificar os fármacos que poderiam ter sido prescritos, mas que por alguma razão não foram – os chamados medicamentos potencialmente omissos.

Vantagens e limitações

Segundo o coordenador do Grupo Técnico de Cuidados Farmacêuticos ao Idoso do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo, Gustavo Alves, essas listas ajudam a evitar transtornos já conhecidos. “A vantagem é organizar o tratamento com medicamentos para reduzir os inconvenientes”, afirma.

É o que também pontua a médica geriatra da Universidade Aberta da Terceira Idade da UERJ, Núbia Burgos: “Os critérios são ainda mais importantes para os profissionais não especializados em saúde do idoso, mas que lidam com pacientes nessa faixa etária no dia a dia”.

Núbia afirma que essas listas, entretanto, não dão conta de todas as situações pelas quais passa o paciente idoso. “No geral deve-se considerar as particularidades do idoso com suas alterações fisiológicas, pois o envelhecimento altera a farmacocinética e a farmacodinâmica dos medicamentos”, diz. Gustavo Alves concorda: “Em muitas situações os medicamentos acabam sendo necessários, porque a eficácia supera os perigos”.

O mesmo vale quando se buscam substituições ou a suspensão do medicamento. Núbia cita o exemplo dos benzodiazepínicos, que são sabidamente arriscados em idosos. “A substituição depende do motivo para o qual houve a prescrição. Se for insônia, o desmame lento e progressivo pode ser feito junto a medidas comportamentais, como higiene do sono e psicoterapia”, diz. Gustavo Alves afirma que a substituição nem sempre é uma alternativa: “Ao analisarmos a prescrição percebemos que alguns medicamentos, em vez de ser trocados, podem ser anulados. Muitas vezes a polifarmácia é um exagero. Em outros, há medicamentos que são omissos na prescrição”.

Em casos em que retirar ou substituir os medicamentos potencialmente arriscados para idosos não é possível, a solução é o monitoramento do idoso e de possíveis reações. “É o que chamamos de risco-benefício em farmacoterapia. Se o idoso tem de tomar um digitálico, que melhora a força de contração do miocárdio, mas que pode promover distúrbios gastrintestinais, como náuseas, vômitos e diarreia, ou ainda distúrbios visuais, alucinações, agitação e até convulsão, a orientação é fazer o monitoramento do uso”, ressalta o farmacêutico.

Ele chama a atenção para o papel do profissional de farmácia junto aos pacientes idosos e aos cuidadores. “A orientação é muito importante para promover adesão ao tratamento: ser objetivo, sempre perguntar se o paciente entendeu, pedir para repetir o que foi orientado e, se necessário, orientar também o cuidador”, destaca.

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