Nem vírus, nem bactéria: é alergia
Quadro de alta prevalência, a rinite alérgica pode ser controlada com o reforço imunológico do paciente
Você sabe qual é a ligação entre um espirro, o intestino e o sistema imunológico? A resposta já pode ser adiantada: é a rinite alérgica. Essa é uma condição imunológica rela - cionada a agentes alérgenos externos que estimulam os anticorpos IgE e desencadeiam um processo inflamatório da mucosa respiratória. Pode acometer não só a mucosa nasal, mas também a laringe, a faringe e os seios da face. Os principais sintomas incluem coriza aquosa e transparente, espirros, coceira, obstrução nasal e lacrimejamento. Essa manifestação pode ser aguda ou crônica, dependendo do quão exposto a um ambiente tóxico o indivíduo está.
Médica pediatra e homeopata em São Paulo (SP), Geisa Quental explica que são diversas as formas de intoxicação: desde poluentes e químicos inalatórios, como o alumínio presente no ar das grandes cidades e os agrotóxicos, muito prejudiciais àqueles que estão no ambiente rural, até os desencadeadores mais conhecidos, como poeira, mofo, umidade, ácaros e pelos de animais. “As alergias alimentares e a dermatite atópica – ambas imunomediadas por anticorpos igE – também estão relacionadas à rinite alérgica, de modo que, muitas vezes, ao tratá-las, o quadro melhora bastante”, destaca a médica.
E o intestino?
O processo inflamatório da rinite alérgica tem grandes chances de ser revertido se o organismo estiver fortalecido. “Nosso sistema imunológico começa no intestino: 82% da serotonina é produzida no jejuno e 100% do hidroxitriptofano, que eleva a produção de serotonina e melatonina, tem produção no intestino delgado. As citocinas anti-inflamatórias também são feitas no intestino, com participação da vitamina B”, relata a médica.
Nesse sentido, a nutricionista clínica Caroline Lameirinhas, de Belo Horizonte (MG), chama a atenção para a alimentação: “Devem ser evitados alimentos ricos em farinha branca, açúcar e gordura, que geram processos inflamatórios e baixam a imunidade, bem como leite, corantes e conservantes, que podem potencializar os sintomas”. Além desse controle, o indivíduo deve manter estáveis os níveis de vitaminas e minerais, que podem ser suplementados de acordo com cada caso e considerando a intensidade da patologia.
Também são aliados no processo de fortalecer a imunidade os probióticos. “Devemos fazer um mix de lactobacilos e bifidum bactérias. Tratar o intestino é a base: se ele não está saudável, não adianta termos uma boa alimentação ou suplementação, pois os nutrientes não serão absorvidos. Quando o intestino está rico em fungos ou bactérias ruins, pode gerar neurotoxicidade”, afirma a nutricionista.
Suplementação
Deficiências de vitaminas e minerais também alteram a imunidade e podem tornar os pacientes mais propensos aos quadros alérgicos. Por isso, a suplementação nutricional pode ser importante no manejo. São exemplos as vitaminas A, D e E; o extrato seco de Astragalus membranaceus, que é imunoestimulante; o zinco e a L-lisina, que funcionam como adjuvantes para imunoestimulação; e a L-cisteína, para a fluidificação do muco do trato respiratório.
A decisão pelo uso desses compostos deve sempre passar pelo crivo de um especialista, uma vez que as indicações são individualizadas. “Os suplementos não devem ser usados isoladamente, e o uso indevido pode gerar prejuízos à saúde”, alerta.
Tratamento farmacológico
Em relação ao uso de medicamentos, a recomendação da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia, da Sociedade Brasileira de Pediatria e da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cervico-Facial, por meio do IV Consenso Brasileiro Sobre Rinites de 2017, engloba os seguintes tipos de fármacos: anti-histamínicos H1; descongestionantes tópicos nasais; e corticosteroides sistêmicos ou tópicos nasais.
Os descongestionantes nasais, que pertencem ao grupo dos estimulantes adrenérgicos ou adrenomiméticos, têm ação de vasoconstrição para aliviar o bloqueio nasal. Os de uso tópico nasal mais comuns são o cloridrato de fenilefrina e o cloridrato de nafazolina. Já os corticosteroides sistêmicos são indicados apenas por uso de via oral, por no máximo sete dias, para o controle de sintomas nasais graves.
Os corticosteroides tópicos de uso nasal são conhecidos por proporcionar melhora de todos os sintomas da rinite alérgica, principalmente congestão, alteração do olfato, coriza, espirros, prurido e sintomas oculares associados. Nesses casos, costuma-se indicar o uso de dipropionato de beclometasona ou budesonida. A maioria dos corticosteroides é contraindicada em crianças com menos de 2 anos, outros em crianças com menos de 4 anos; o dipropionato de beclametasona é contraindicado antes dos 6 anos de idade.
Para evitar as crises, pode-se usar, de modo contínuo e profilático antes da exposição aos alérgenos, o cromoglicato dissódico na forma tópica nasal. O medicamento possui ação estabilizadora sobre a membrana de mastócitos e impede a liberação dos mediadores químicos estocados nessas células durante a reação alérgica. Apesar de serem menos eficazes que os anti-histamínicos e os corticosteroides, são mais seguros, podendo, sob avaliação médica, ser usados até para lactentes.