Partir comprimidos para animais de pequeno porte pode causar intoxicação.
Se a diferença entre o remédio e o veneno está na dose, no caso dos animais de pequeno porte, a farmácia de manipulação faz toda diferença no fornecimento da dose certa. Principalmente para tratar problemas como a insuficiência cardíaca e arritmias. “Muitas vezes é preciso usar doses abaixo dos valores padronizados; a exemplo da prescrição para cães da raça Pinscher que podem pesar apenas três quilos. Nesses casos, só se consegue a dose exata por meio da manipulação”, explica o professor de Clínica Médica da Unip Campinas especialista em Cardiologia, Lucas de Carvalho Navajas.
De acordo com Navajas, algumas substâncias para medicamentos cardíacos veterinários estão disponíveis no Brasil exclusivamente na farmácia magistral. Entre eles o pimobendam, droga de primeira escolha para o tratamento da insuficiência cardíaca congestiva. Dentre a patologias cardíacas, destacam-se as doenças valvares, que resultam em insuficiência cardíaca congestiva do lado esquerdo, tosse, hipertensão pulmonar e arritmias. Na doença valvar crônica de mitral, ocorre degeneração mixomatosa da valva mitral, levando à insuficiência da mesma, com sobrecarga de volume e mecanismos compensatórios.
O veterinário considera que outra vantagem dos manipulados é a possibilidade de usar formas farmacêuticas palatáveis, com adição de sabores que atraem os pets, como bacon, queijo e peixe. Há ainda diferentes texturas, como caldas, que facilitam a administração oral, e até mesmo a possibilidade, em alguns casos, de fórmulas manipuladas em forma de gel transdérmico. “Tenho indicado bastante, principalmente para gatos, que não aceitam muito o medicamento oral. Outra vantagem é a possibilidade de associação, sempre com cuidado quando usar mais de uma substância em um mesmo medicamento para não haver interação. No geral, é muito benéfico”, afirma Navajas. A fisiologia de animais como cães e gatos é particular e difere em muitos pontos dos humanos. Muitos fármacos, excipientes e adjuvantes podem ser tóxicos, e toda atenção é pouca durante a escolha e a manipulação do medicamento.
O farmacêutico Luiz Cavalcante, coautor do Manual da Farmácia Magistral Veterinária, lembra que animais de pequeno e médio porte podem se intoxicar mais facilmente, razão pela qual também não é indicada a partição de comprimidos. Caso do benazepril, inibidor da ECA, e eventualmente administrado aos cães com insuficiência cardíaca congestiva, associado ao pimobendam. Para um Chihuahua com 3 quilos, a dose pode variar entre 0,25 a 0,5mg/kg/dia. Para um animal de 3kg, a dose começa em 0,75 mg.
“O comprimido de benazepril encontrado é de 5mg. Logo, se cortar um medicamento de 5mg em 4 partes, a dose de cada fração será de 1,25 mg – 66,66% mais alta que o adequado. Esta pode ser uma das razões da intoxicação de 256 cães por benazepril, relatados entre 2009 e 2013 pelo Animal Poison Control Center, nos Estados Unidos”, explica o especialista.
Daí a importância de a farmácia de manipulação oferecer doses exatas, personalizadas, com forma farmacêutica, aroma e sabor que mais facilitem a adesão ao tratamento.
“A prescrição depende da decisão do médico veterinário. Na sua rotina, ele irá prescrever o medicamento obedecendo às necessidades do esquema terapêutico apropriado para cada animal. Por isso é importante que o farmacêutico conheça o médico veterinário, as principais patologias e medicamentos prescritos para sugerir soluções para o prescritor”, avalia o farmacêutico.
O QUE FORMULAR?
Benazepril ....................................................................................................................................0,25mg-0,5mg/kg
Excipiente qsp...........................................................................................................................................1 cápsula
Posologia: a critério do médico veterinário, 0,25mg-0,5mg/kg via oral, de 12 a 24 horas em cães e gatos.
Indicação: vasodilatador inibidor da enzima conversora de angiotensina (ECA), para tratamento de hipertensão, insuficiência cardíaca, insuficiência renal crônica e glomerulonefropatias. Para hipertensão sistêmica e doenças renais: 0,5mg a 1mg/kg/dia via oral. Dose alternativa para gatos: 2,5mg/animal/dia, para gatos até 5 kg de peso corporal, via oral.
Pimobendam...............................................................................................................................0,1mg a 0,3mg/kg
Excipiente* qsp .........................................................................................................................................1 cápsula
*Excipiente = ácido cítrico anidro 78,5%, sílica coloidal (Aerosil® 200) 4,18%, estearato de magnésio 0,6%, povidona (PVPK 30) 1,52%, celulose microcristalina qsp 1 cápsula. É importante utilizar cerca de 264mg a 280mg de veículo para cada cápsulas, garantindo assim um teor adequado de ácido cítrico (cerca de 207mg a 220mg) e obtenção de uma boa biodisponibilidade.
Posologia: a critério do médico veterinário, 0,1mg-0,3 mg/kg via oral, a cada 12 horas em cães. Em gatos a dose é de 1,25mg/animal a cada 12 horas, via oral. O pimobendam é mais bem absorvido em meio ácido, dessa maneira, condições de pH flutuante no estômago e administração com alimento podem tornar a absorção oral inconsistente. Usar com cautela com outros inibidores da fosfodiesterase, comoa teofilina, a pentoxifilina e o sildenafil.
Indicação: derivado benzimidazólico inodilatador, para tratamento de insuficiência cardíaca congestiva secundária e cardiomiopatia ou insuficiência mitral crônica.
Biológica, a farmácia de manipulação das farmácias de manipulação.