Redução gradual e atenção ao paciente são fundamentais para uma dessensibilização menos sofrida
Conhecida como desmame, uma fase importante dos tratamentos para a saúde mental é a dessensibilização. E esse pode ser um período traumático para o paciente. No caso de medicamentos que causam dependência, a abstinência gera sintomas insuportáveis para a maioria das pessoas. Vão de irritação, explosões de choro e distúrbios de humor até vertigens, tremores, calafrios e vômitos. Aparecem de 24 a 72 horas após a interrupção da ingestão e chegam a durar três semanas.
Entre os medicamentos cuja dessensibilização é mais delicada, estão os benzodiazepínicos, que atuam na diminuição da ansiedade, indução ao sono, relaxamento muscular e redução do estado de alerta.
Segundo o psiquiatra Charles Oswald Sandenberg Evans Neto, que atende em Francisco Morato (SP), os benzodiazepínicos criam uma zona de conforto artificial – necessária na crise, mas cujo prazo de validade é pré-determinado.
O especialista conta que, quando começa o tratamento, já avisa sobre os motivos da prescrição, a importância de seguir as orientações, os efeitos colaterais, os efeitos secundários possíveis e o fator tempo. Esse prazo varia de pessoa para pessoa, mas o ideal é que dure até três meses. “Infelizmente, porém, muitas pessoas estão dependentes dos benzodiazepínicos há cinco, oito, dez anos”, diz. “Nesses casos, o trabalho é de formiguinha."A pessoa deve ser alertada que o medicamento, se usado no longo prazo, tira a atenção, compromete a vida diária e condiciona o organismo a demandar doses cada vez mais altas.
Pouco a pouco
Segundo Charles, a primeira experiência para a dessensibilização dura sete semanas: “Na primeira, a pessoa fica apenas um dia sem ingerir o medicamento. Na segunda, dois; na terceira, três; e assim por diante”.
Nem sempre a primeira tentativa funciona, pois o organismo cobra a sensação de bem-estar antes promovida pelo medicamento. Quando falha, é preciso então retornar ao fármaco e preparar a pessoa antes de uma nova tentativa.
O prescritor em geral conta com outros fármacos que dão suporte nessa fase, como antidepressivos para melhora do sono e da autoestima. Eles funcionam como uma alavanca para a dessensibilização.
De acordo com o médico, o diálogo com o farmacêutico é sempre importante, seja para minimizar os efeitos colaterais, seja para encontrar o melhor custo-benefício.
Síndrome da interrupção
O artigo “Síndrome de interrupção dos inibidores seletivos de receptação da serotonina”, publicado no The international Journal of Psychiatry, aponta que cerca de dois terços dos pacientes com depressão interrompem o tratamento antidepressivo entre o primeiro e o segundo trimestre depois de iniciada a psicofarmacoterapia. São quatro os motivos:
•acreditam que não necessitam mais da medicação;
• têm medo de ficar dependentes do antidepressivo;
• acreditam que o tratamento não está dando resultado;
• não conseguem pagar a manutenção do tratamento.
Antidepressivos tricíclicos: Mal-estar, mialgia, anergia (falta de energia), diaforese, rinite, parestesia, cefaleia, náusea, vômito, diarreia, anorexia, insônia, humor deprimido, irritabilidade.
Antipsicóticos: Náusea, êmese, anorexia, diarreia, rinorreia, diaforese, mialgia, parestesia, ansiedade, agitação inquietação, insônia.
Benzodiazepínicos: Sintomas de rebote, taquicardia, insônia, tremor, crises convulsivas, psicose.
Inibidores seletivos da receptação de serotonina (ISRS): Tontura, sensação de cabeça vazia, insônia, fadiga, ansiedade, agitação, náusea, cefaleia, transtornos sensoriais.