Como se aplicam os conceitos de orgânico, vegano e sustentável na farmácia magistral
A onda é ser ecofriendly, principalmente para a geração Z, nome dado às pessoas nascidas entre o fim dos anos 1980 e início do século XXI. Dentre outras características, são indivíduos que combatem a exploração dos animais em todos os âmbitos, além de terem uma forte preocupação em relação ao planeta e à sustentabilidade.
A farmacêutica Valéria Maria de Souza Antunes explica que, por várias décadas, a indústria cosmética utilizou animais em seus testes. “A cosmetologia internacional se rendeu e, hoje, as empresas usam o apelo 'não testado em animais'”.
Outra tendência são os produtos orgânicos, que seguem a premissa de preservação do meio ambiente e de recursos sustentáveis. O conceito de cosmético orgânico não diz respeito somente ao cultivo dos produtos que compõem sua formulação, mas à cadeia de produção em que ele está envolvido. Por exemplo, um produto que seja retirado de fonte renovável, com um ciclo de vida sustentável desde a fabricação até o descarte da embalagem, cujo resíduo que vai para o ralo não vai contaminar o planeta.
A Biológica possui um sistema de coleta de emabalagens para reciclagem
O pesquisador especialista em desenvolvimento cosmético, Cleber Barros, destaca que existem várias definições sobre o que é um cosmético orgânico: “Podemos destacar três posicionamentos: os das certificadoras, o entendimento da marca – já que não existe uma regularização no setor – e o de determinados grupos de consumidores”.
No Brasil ainda não há uma empresa certificadora dos produtos orgânicos, mas a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec) está finalizando uma metodologia ISO especificamente para esse fim. Enquanto isso não acontece, são usadas como referência as diversas certificadoras que já existem no mercado e que, apesar de utilizarem conceitos parecidos, podem trazer variações em suas denominações. É permitido usar o conceito “orgânico”, mas sem a certificação, a não ser que a farmácia de manipulação adquira no mercado uma base vegana pronta. Assim, quando o prescritor indicar, poderá colocar o ativo mais a base vegana QSP.
“É necessário que pelo menos 95% dos ingredientes processados sejam de produção biológica; pelo menos 20% do produto final deve ser biológico; pelo menos 10% do produto final deve ser biológico no caso de produtos de enxague aquosos não emulsionados”, explica Valéria sobre os orgânicos.
Barros complementa lembrando os cosméticos naturais: “São aqueles que possuem ingredientes naturais, certificados, mas que não chegam aos 95% dos ingredientes de produção biológica”.
Para o manipulado se declarar orgânico ou vegano, deve poder comprovar que todos os componentes da formulação apresentam essas características. “A comprovação está na formulação com ingredientes declarada e inserida no sistema de software da farmácia, como veículo ou base da formulação. Os componentes ativos devem ser de origem provada orgânica ou veganos”, explica.
É preciso ter critério especial na escolha dos conservantes. “Os naturais tendem a não ser tão eficazes quanto os sintéticos e, dependendo da formulação, podem não a proteger contra os diferentes microorganismos. Não adianta criar uma formulação totalmente natural e não conseguir garantir a qualidade”, conforme afirma. Entre os sintéticos, a recomendação é evitar principalmente os mais polêmicos, como parabenos, liberadores de formaldeído e isotiazolinonas. Pode-se dar preferência àqueles considerados mais suaves: Spectrastat (Caprylhydroxamic Acid (and) Caprylyl Glycol (and) Glycerin), Optiphen (Phenoxyethanol (and) Caprylyl Glycol), Hebeatol® Plus (Xylityl Sesquicaprylate).
“O prazo de validade de produtos manipulados já é mais reduzido; dessa forma, ao manipular cosméticos naturais com qualidade e da forma correta, a validade do produto será a ideal para o consumidor utilizá-lo em determinados tratamentos sem perdermos a estabilidade da formulação”, complementa Barros.
Já nos produtos veganos, não podemos ter substâncias como colágeno, quitina, elastina, derivados de peixe, gelatina, glicerina (exceção: glicerina vegetal), perfumes, gorduras animais, queratina, extrato de órgão do corpo de animais, corantes originários de pequenos insetos, seda, cera de abelha, leite e derivados, mel e derivados, lanolina de origem animal, ovos, ácido caprílico extraído de leite de cabra, ácido hialurônico cuja origem seja animal e mesmo a ureia. Já para as maquiagens veganas, o tradicional dióxido de titânio, óxido de zinco, óxido de ferro, as micas, argilas e o Kaolin, pigmentos vegetais, óleos vegetais, estão permitidos. Podem ser utilizados, inclusive, ingredientes de origem sintética, mas nunca de origem animal.
Para se manter coerente com o conceito de sustentabilidade, é importante que as embalagens dos produtos sejam recicláveis. No Brasil, ainda não há os formatos biodegradáveis, porém o mercado mundial já está exigindo isso dos fornecedores e, em breve, acredita-se que o mercado nacional receba modelos.
Desafios de trabalhar com materiais naturais.
Com a demanda e tendência crescente para o desenvolvimento de produtos veganos e orgânicos, o farmacêutico que trabalha no desenvolvimento de novas formulações é desafiado a repensar as bases tradicionais, deixando de lado os ingredientes derivados de petróleo e de origem animal sempre que possível, para acrescentar substâncias de origem natural. “Essa troca é mais difícil do que se imagina, pois trabalhar com substâncias de origem vegetal exige uma padronização e um cuidado extra com os procedimentos para concluir a extração. Além disso, temos de contar com a sazonalidade, com fatores climáticos, com as questões ambientais. Prevejo que esses e outros cuidados levarão, em um futuro muito próximo, a uma tendência chamada clean beauty (cosméticos livres de agrotóxicos)”, afirma Valéria.
Aqueles que consomem biocosméticos acreditam que eles são mais eficazes, dão crédito às certificações e se dispõem a pagar mais pelos produtos. Portanto, essa é a hora de aumentar o número de pesquisas no setor, entender os benefícios reais e trazê-los para a farmácia de manipulação.
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Valéria destaca informações do último Congresso Internacional de Paris, o In Cosmetics, ocorrido em abrilde 2019, que levantou a questão da continuidade do uso de ativos e ingredientes botânicos, comparando-os aos de origem marinha. “Os ativos de origem marinha podem ser mais bem utilizados e são mais sustentáveis que os botânicos. A tendência “free from” (livre de) foi um avanço em termos de pesquisa. Muitos ingredientes foram desenvolvidos como alternativa, por exemplo, aos parabenos, óleos minerais, tensoativos sulfatados e silicones. A cada questionamento do consumidor, a ciência avança”, afirma.
Barros completa: “É muito importante que a farmácia de manipulação verbalize e mostre aos seus clientes que aquele produto é natural, contando a história do produto, que dentro daquele manipulado tem óleos vegetais, ceras, manteigas, extratos vegetais e diversas outras matérias-primas que o consumidor valoriza. Com o cliente conhecendo, fica mais fácil a farmácia conseguir usar todo o potencial dessas formulações”, estimula.
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